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Ouvir música enquanto estuda ou trabalha: Ajuda ou atrapalha?

26 Nov 2023 - 09:02

Ouvir música enquanto estuda ou trabalha: Ajuda ou atrapalha?

Quando se fala em ouvir música enquanto se estuda ou trabalha, há vários tipos de perfis. Algumas pessoas só conseguem concentrar-se  enquanto ouvem um tipo de música específico, outras sentem que qualquer ruído as desconcentra e há ainda quem consiga trabalhar com músicas e sons simultâneos. 

Mas, afinal, ouvir música enquanto se trabalha e estuda beneficia ou prejudica o desempenho? Há um tipo de música mais adequada para cada tarefa?

Ouvir música durante uma tarefa é prejudicial para o desempenho?

A psiquiatra Inês Homem de Melo começa por adiantar, em declarações ao Viral, que este é “um tema muito popular, principalmente, porque, hoje em dia, temos acesso a grandes bibliotecas musicais, em qualquer sítio”.

Apesar da popularidade do tema, a evidência disponível “é mista ou inconclusiva”, pois, “há estudos que apontam para um lado e estudos que apontam para outro” (ver aqui, aqui e aqui), acrescenta. 

Por que razão é tão difícil estudar este tema? Segundo a especialista, “o efeito da música sobre a performance cognitiva, em tarefas não musicais, depende de 3 fatores”:

  • Pessoa ouvinte

Por um lado, é importante ter em “consideração a preferência da pessoa, a nível musical”, aponta. Além disso, a “personalidade” do ouvinte também é um fator relevante. 

Por exemplo, “o efeito da música parece ser diferente nas pessoas extrovertidas relativamente às introvertidas”, salienta a psiquiatra.

Para mais, outros aspetos a ter em conta são: “se a pessoa já tem hábito (ou não) de ouvir música para executar tarefas”; “a idade da pessoa”; e “a sua proficiência musical, ou seja, se é uma pessoa com treino de música”.

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  • Tarefa em questão

No âmbito do tipo de tarefa, “importa se é uma tarefa simples ou complexa”, frisa Inês Homem de Melo. Se é uma tarefa que envolve “a linguagem verbal, como ler, escrever, memorizar, ter um pensamento crítico”. Ou, por outro lado, se é uma “tarefa que não envolve palavras”, como “resolver problemas de matemática”.

  • Tipo de música

“No capítulo da música importa o volume, o género musical, o ritmo (se rápida ou lenta), a complexidade” e, “muito importante”, se “tem letra ou não”. Indo mais longe, “se a música é na língua nativa da pessoa ou não”.

Apesar de estas questões tornarem o tema difícil de estudar, “há algumas tendências que já se conseguiram demonstrar”. 

Segundo a médica, o mais consensual é que, “em tarefas muito complexas, não podemos sobrecarregar a memória de trabalho com nada que distraia o cérebro”. Assim, neste contexto, “o mais indicado será a música simples, rápida, baixa e sem letra.

Em tarefas muito básicas, “já podemos pôr músicas com mais complexidade, mas, mais uma vez, rápidas”, refere.

Contudo, mesmo tendo em conta a evidência disponível, Inês Homem de Melo faz uma ressalva: “os estudos são sempre feitos com amostras de pessoas muito diferentes misturadas, por isso é que têm resultados inconsistentes”. 

Como a influência da música no desempenho cognitivo “é tão dependente da pessoa, é legítimo que uma determinada pessoa conheça exatamente a música que para ela funciona em determinado tipo de tarefas”, sustenta.

Assim, não se pode dizer que há evidência de que determinada música seja prejudicial ou benéfica, porque “as pessoas são todas diferentes”. Se uma determinada pessoa for estudada, “pode-se chegar à conclusão que aquela pessoa, para ler, precisa de ouvir música de Beethoven”, exemplifica. 

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Como usar a música a favor do desempenho?

Inês Homem de Melo explica que “a música é muito boa para alterar o estado de ânimo, para motivar e diminuir o stress”. Assim sendo, usar a música com esse fim pode desencadear, como um efeito secundário, um melhor desempenho, já que “o tédio é o pior inimigo da performance cognitiva”.

No entanto, apesar de não se saber bem se a música durante a tarefa é benéfica, “os estudos são muito mais consensuais” sobre ouvir música nos intervalos e antes das tarefas.

Por isso, a solução pode ser “ouvir uma música que motiva durante 15 minutos antes da tarefa”. Ao fazer isto, dá-se um “fenómeno inconsciente” chamado “entrainment”, em que “o cérebro tende a ter ondas cerebrais ao ritmo da música”, esclarece.

Durante esse período, ouve-se “uma música que motive, rápida, que se goste e que vá melhorar o humor e diminuir o stress”. Sendo que a escolha da música tem de ser muito individualizada, pois o que motiva uma pessoa não será o mesmo que motivará outra pessoa”, sustenta.

É importante ter em conta que o “que motiva é sempre a música rápida”, pois a música lenta é mais adequada “para entrar em estados de meditação, para dormir e relaxar”, explica a psiquiatra.

Os ruídos e as batidas binaurais têm influência no desempenho?

Além da música em si, também já começaram a ser estudados os sons “que se destinam estritamente a potenciar a performance cognitiva”, refere a psiquiatra.

São os chamados “ruídos” (brancos, castanhos, rosa) – mais conhecidos pela sua designação em inglês, “brown/white/pink noises” – e as batidas binaurais (binaural beats, em inglês), sobretudo “na frequência muito específica de 40 hertz”.

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A evidência em torno da influência destes sons no desempenho cognitivo “não é muito robusta, mas os estudos apontam que seja favorável, nas frequências gamma, nomeadamente em 40 hertz”, conclui.

26 Nov 2023 - 09:02

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